Manada de touros bravos - Alverca da Golegã no princípio do século XX
Fotografia de Emílio Biel
A história do concelho da Golegã está profundamente ligada aos dois rios que o percorrem -o Almonda e o Tejo-, à fertilidade célebre dos seus solos, às grandes quintas agrícolas, às cheias, às touradas, aos lazeres reais.Segundo reza a história, a Golegã, enquanto povoado,teve origem numa estalagem estabelecida no tempo de um dos primeiros reis de Portugal -talvez D. Sancho para acolher gente de passagem de Lisboa para o norte e para se proceder à muda de "cavalgadura", em tão longa jornada. Esta estalagem tudo leva a crer ter sido pertença de uma mulher da Galiza, residente em Santarém. Daí o povoado então nascente se ter chamado de "Venda da Galega", mais tarde Golegã. Esta estalagem estava situada num ponto estratégico e importante, junto à principal estrada real. No reinado de D. João I já a Golegã tinha grande importância, assim como, mais tarde, no de D. Afonso V, tendo atingido o auge no reinado de D. Manuel. O Lugar de Golegã foi elevado à categoria de vila por carta de D. João III, em 1534.A par da importância do lugar em que se situava, a região da Golegã detinha uma das maiores riquezas da altura: um solo fértil. A fama das suas terras chamou muito povo a si, assim como grandes agricultores e criadores de cavalos. Desde os tempos mais remotos vêm alusões à região, de que é exemplo a importantíssima Quinta da Cardiga que, em 1169, fora doada por D. Afonso I à ordem do Templo para arroteamento e cultivo. De século para século foi a mesma sendo doada a outras ordens e, a partir do séc. XIX, comprada por diversos grandes agricultores.Em meados do Séc. XVIII surge, essencialmente ligada à criação de cavalos e à necessidade de venda de produtos agrícolas da região, a Feira de S. Martinho. A partir de 1833, e com o apoio dado pelo Marquês de Pombal, a feira começou a tomar um importante cariz competitivo. Começaram a realizar-se concursos hípicos e diversas competicões de raças. Os melhores criadores de cavalos concentravam-se então na Golegã.Quando no reinado de D. Maria I se construíu a estrada ligando Lisboa ao norte por Leiria e Pombal, a Golegã decaíu bastante, tendo-se recomposto somente mais tarde, no séc. XIX, com base na valorizagão agrária da região. Para esta "reconstituição" da importância da Golegã muito contribuiram as figuras de dois grandes agricultores e estadistas: Carlos Relvas, fidalgo da Casa Real, grande amigo do Rei, comendador, lavrador, artista, proprietário de diversos estabelecimentos agrícolas e de dois palácios (onde por várias vezes hospedou a familia real), e José Relvas, seu filho, democrata imensamente ligado à causa republicana, ministro das finanças e também um grande artista.Profundamente liberal, a Golegã esteve ligada às lutas entre D. Pedro e D. Miguel e à implantação da República. Como quase todas as vilas deste país, sofreu as acções de pilhagem e saque das tropas invasoras francesas (...). A segunda freguesia deste concelho, a Azinhaga, remonta ao período da dominação árabe. O seu nome vem, provavelmente, de "Azenha", que significa, em árabe, "apertar", "estreitar", ou ainda "Zenagga", que quer dizer, também em árabe, "muitas azinheiras juntas". Antes da fundação de Portugal era conhecida por Santa Maria do Almonda. Teve foral no reinado de D. Sancho II. Fertilizada pelas águas do Almonda, as terras de Azinhaga são também as mais directas responsáveis pela importância da região. Doadas como "prémio" a diversas ordens e à nobreza deste reino, aqui se foram fundando e desenvolvendo importantes quintas, como a "Boquilobo" e a "Brôa". A Azinhaga foi vila independente no reinado de D. Joso IV. Até 1895 pertenceu a Santarém, data a partir da qual passou a pertencer ao concelho da Golegã.Intimamente ligada à história da Golegã estão os seus grandes lavradores, quintas e ganadarias e, com eles, um imenso povo assalariado. A par da grande riqueza, a realidade de uma população que conheceu a fome e a pobreza: " (...) Um concelho rico de terra fértil, somente agrícola, e os seus habitantes pobres; mas pobres de facto porque raro é aquele que possua quatro paredes a que possa chamar sua casa.(...) Terra rica, gente pobre, um paradoxo, corolário das más funções do regime de propriedade especialmente da sua exploração, entregue a rendeiros, mercenários da lavoura, que tornam as condições de vida económica e social insuperáveis perante a razão das coisas.(1)
(1)in "Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém", nº3 - artigo "A terra, o trabalho e o Homem" de José Serrão e Faria Pereira ...
Azinhaga
Estátua de José Saramago
"Povoação antiga, que segundo documentos, contava já em 1527 com 124 moradores. É, aliás, à entrada deste aglomerado, que vislumbramos a Capela de S. João que pontua o vasto terreno que está contíguo à Azinhaga. Situada como a Golegã, numa fértil campina, conservou até há pouco costumes muito peculiares e próprios, como era o caso do ritual da contratação do pessoal agrícola (...). Teve barca de passagem, quase na confluência do rio Almonda com o Tejo, no local onde ainda há anos era possível observar-se os alicerces do porto que, conjuntamente com a malha urbana envolvente, define uma estrutura singular. No seu contexto urbano, a Azinhaga preserva ainda alguns solares, casas alpendradas, com inegável cunho arcaico, pátios, trechos arquitectónicos, ermidas e habitações rurais (...). A Igreja Matriz, também designada por Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, possui sóbria frontaria dominada pelo pórtico, sobrepujando junto à arquitrave pinaculada pelo janelão do coro, evolutado, rematado com cruz. A torre sineira é posterior, conferindo-lhe uma importância que até então não conhecia. A Capela do Espírito Santo é um exemplo de uma ermida rural, e a Capela (primitiva) de S. José, classificada pelo IPPAR, como Imóvel de Interesse Público, data do século XVII. É uma capela que serve ao solar brasonado dos Serrões de Faria (...).
" A estrada segue entre altos e velhos plátanos, de um lado a Quinta de Santa Inês, do outro a Quinta de S. João, e então aparecem as primeiras moradas. E, na nomenclatura da terra, o Cabo das Casas. Foi aqui na Azinhaga, que o viajante nasceu. E para que se não cuide que veio cá só por razões egoistamente sentimentais, apontará a Ermida de São José (...)" (1)
(1) in Viagem a Portugal, José Saramago. ...
Quinta da Cardiga
" Ao redor da vila formaram-se modelares quintas afamadas pelas explorações agrícolas e pecuárias mas também pela beleza das suas casas. É de salientar a Quinta da Cardiga, que tem um conjunto edificado de remota e importância reconhecida, estando a sua Torre ameada e algumas das antigas construções que a envolvem, nomeadamente os claustros, capela e celeiro e pequena colunata rematada por cúpula semiesférica, classificado pelo IPPAR como Imóveis de Interesse Público. Nas suas proximidades encontram-se as grandes instalações agrícolas (...). Actualmente esta propriedade, que conheceu momentos de grande esplendor, encontra-se numa situação confrangedora assistindo-se a um cenário pontuado pela degradação e pela ruína (...)" ...
S. Caetano
"S. Caetano constitui o quarto maior aglomerado do Concelho da Golegã, em 1991, contabilizava 122 habitantes correspondendo a 2.96% do total da população da freguesia. S. Caetano tem como "espinha dorsal" sem dúvida, a Rua Direita. Apercebemo-nos, desde logo, que é uma estrutura que surgiu como "apoio" às grandes propriedades e estruturas que se encontram nas proximidades. O espaço central de S. Caetano, está perfeitamente definido e é sem dúvida nenhuma um espaço contido e no qual se "desenvolve" toda a vivência que aí habita. Este aglomerado, faz parte da freguesia da Golegã, apresentando 122 habitantes, 51 famílias, 60 alojamentos e 60 edifícios (CENSOS 91), apresentando, a maioria dos seus edifícios a nível das infraestruturas sanitárias, todas as condições referenciadas nos CENSOS 91". ...
Casal Centeio
Casal Centeio, é outro aglomerado do concelho (...). É um aglomerado recente, que surge confinante com duas grandes propriedades que aí se localizam. A cércea dominante é de um piso, definindo os seus arruamentos uma estrutura ortogonal reticulada de lotes estreitos e compridos, que tem como principal "perspectiva" urbana a Rua 5 de Outubro delineados e definidos pelo parque edificado. Apercebemo-nos da localização da antiga Cooperativa da Golegã, local que foi actualmente reaproveitado para a comercialização de produtos agrícolas e combustíveis ...
Mato de Miranda
Estação Ferroviária de Mato de Miranda
"Casal Centeio, não é o único aglomerado de características mais recentes. Mato de Miranda, surge-nos como o menor dos aglomerados que compõem a freguesia da Azinhaga, com 107 habitantes, 37 famílias, 44 alojamentos e 44 edifícios (CENSOS 91). Surge-nos assim como uma estrutura de forte cariz habitacional que patenteia uma presença dominante e marcante, que é sem qualquer dúvida a linha do comboio que divide a pequena estrutura, organizada, fundamentalmente, ao longo da Rua João Veiga (...). É delimitada a Noroeste pela Rua Saldanha, de características rurais e a Sudoeste pela Estrada da Funda que funciona como charneira entre este aglomerado urbano e os campos agrícolas que lhe são confinantes." ...